Pet shop banho e tosa – Reflexões necessárias
A partir da década de 80, surgiram nos grandes centros urbanos mais desenvolvidos os serviços de banho e tosa nas clínicas veterinária e posteriormente com os pets-shops, passaram a um patamar de excelência na prestação desses serviços, que até então não eram vistos com a mesma intensidade que conhecemos hoje. A grande explosão se deu nos anos 90, juntamente com o surgimento de inúmeras faculdades de medicina veterinária, cuja popularização se deu não só nos grandes centros, mas também na periferia das grandes cidades.
Inúmeros cursos para tosadores foram surgindo, o SENAC despertou para esta atividade, criando também o seu curso, pois a demanda por profissionais tornou-se uma necessidade imperiosa.
A indústria deu excelente contribuição colocando a disposição desse ramo da economia matéria prima e equipamentos necessários ao desenvolvimento dessa atividade, cuja taxa de crescimento ultrapassa o do nosso PIB, chegando a 15% ao ano. As feiras pets no Rio e em São Paulo é um bom exemplo disso.
Além das clínicas veterinárias, os serviços de banho e tosa passou a ser oferecidos também por profissionais dos pets shops desvinculados da atividade médica veterinária.
Esses profissionais, guardado as devidas proporções, carecem de uma boa formação a cerca de diversos aspectos que envolvem as relações homem animal: A psicologia animal. O estado em que se apresenta para a prática dos serviços oferecidos, assim como seu estado de saúde, e seu relacionamento com os proprietários. Como conseqüência disso, vez por outra, são vítimas de inúmeras incompreensões por parte dos proprietários e por que não dizer de alguns colegas veterinários.
Platão, trezentos e vinte e sete anos antes de cristo, deu-nos essa máxima: “Bom seria se os filósofos fossem Reis, ou os Reis usassem a verdadeira filosofia para governar”. Querer que todos os veterinários sejam tosadores, ou que os tosadores usem a arte médica veterinária para prática de uma boa tosa, só mesmo em sonho de filósofo. Mas, em pleno século 21, podemos sim, ter profissionais que possam contar com o apoio dos médicos veterinários, inclusive do seu órgão de classe, e das faculdades de medicina veterinária. Temos que enxergar os tosadores como nosso verdadeiro aliado, e não como adversário ou concorrente. Por tratar-se de uma atividade tão difícil, extenuante e de vital importância para a sociedade e para a os médicos veterinários é que deveria ser encarada sob uma ótica mais carinhosa.
Não devemos nos esquecer, que os profissionais de banho e tosa, estão sujeitos a uma infinidade de incompreensões, bem como inúmeras fatalidades. Alguns animais saltam das mesas com uma rapidez que ofusca o olhar mais atento destes profissionais. Quantos não se quebram gravemente? Alguns animais jovens, sem as devidas defesas imunológicas, podem adoecer após uma tosa e um banho, mas nenhum proprietário compreenderá esse evento patológico e culparão sem dúvida o profissional que prestou os serviços. Sem falar em muitos outros que podem estar com uma determinada doença incubada, mas em virtude do estresse causado pela tosa e pelo banho os sintomas se desenvolvem. O que falar dos animais que fogem de coleiras frouxas, mal colocadas pelos seus donos, que por pena ou por acharem que estão apertadas as afrouxam e entregam ao tosador ou ao recepcionista, mas quando viram às costas seu mimado cãozinho foge colocando em pânico o coitado do dono do pet, ou o tosador? Já presenciei a fuga de um poodle na Noronha Torrezão, em Niterói fugiu da coleira de um entregador ao sair de um pet shop, e o pobre do entregador atrás, gente em pânico, carros freando, gente aos gritos. Cenas iguais ocorrem diariamente pelas grandes cidades. Quantos animais chegam com pulgas ou carrapatos que não são visíveis aos olhos do dono, mas quando estes são tosados, esses ectoparasitas aparecem com mais facilidade, mas nenhum proprietário admite que seu cão seja portador destes parasitas.
Aquela famosa frase: “Veio daí com essas pulgas, ele nunca teve um carrapato! ” É velha conhecida de todos os tosadores e donos de pet shops
Há situações que beira ao absurdo, tal o cinismo com que alguns proprietários acusam o tosador ou os pets shops pelos infortúnios dos seus animais.
Certa vez em uma clínica, um show show que ia para banho a cada quinze dias, apresentou um pequeno eczema úmido na região dorsal do pescoço, causado por um prurido (coceira). Isso ocorreu dez dias após o banho. A proprietária ligou para a clínica se queixando, exigiu consulta grátis, ameaçou processar a clínica, acusando-a de ter sido o banho causador daquele eczema. Vala-me São Francisco! Onde é que nós estamos? Mas, coloque-se no lugar do dono da clínica, ou pet shop? O cão coitado acaba sendo a maior vítima. Quer agressão pior, do que ser arrancando do conforto do lar, ser colocado em uma gaiola, ser transportado em uma moto ou mesmo um carro utilitário, ser colocado numa mesa, ter os pêlos cortados com uma lâmina que pode mordiscar, puxar pêlos e pele, ─ algumas lâminas aquece com o tempo de funcionamento, virar por um lado, virar para outro, ter os pêlos dos ouvidos arrancados, e logo depois ser colocado num tanque, e na maioria das vezes encarar um banho de água fria? Fala sério! Alguém já se deu conta o quanto isso é muito estressante? Há proprietários e proprietários, assim como tosadores e tosadores, enfim há sempre os dois lados da moeda. O conselho que dou aos tosadores e ou aos donos de pets shops, é a adoção de uma ficha clínica do animal, com todos os dados, particularidades, tais como sensibilidade, alergias a tais e quais produtos, manias, etc., bem como um minucioso exame das condições dos pêlos e da pele, dos genitais, olhos, ouvidos, e boca, de preferência na presença do cliente. Transparência é muito bom nas relações de prestação de serviços. No mundo globalizado, não haverá espaço para amadores. Os tosadores os pets shops, terão que serem extremamente profissionalizados do contrário serão expulsos do mercado. O mercado não aceita amadorismo, nele, muitos profissionais serão chamados, mas pouco os escolhidos. O mercado não capacita os escolhidos, mas escolhe os mais capazes. Evitar cometer erros nas relações com os nossos clientes, onde o que está em jogo são os nossos melhores amigos, e que hoje são vistos e tratados como verdadeiros filhos é imperioso, mas, errar é humano, mas, perdoar é canino.
Dr. Pedro Nunes Caldas
É Médico veterinário, Cirurgião Geral e Ortopedista
Diretor do hospital veterinário Niterói
Médico Veterinário Cirurgião Geral e Ortopedista
Diretor do HVN Nitéroi
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